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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os Porta-enxertos mais utilizados no Alentejo

Muitas das vezes quando decidimos que queremos plantar uma vinha, ou reestruturar uma existente, esquecemos-nos de estudar e pesquisar os factores que irão marcar a vinha durante toda a sua vida útil, afectando a qualidade das uvas e consequentemente o vinho que estas produzem. Existem factores que só se tem uma oportunidade de escolha, devido ao facto de não ser sustentável correcções após instalação da vinha. São eles a escolha do local, de instalação com o estudo dos solos e do clima, mais concretamente o mesoclima, a escolha das castas e dos clones a instalar, e claro a escolha dos porta-enxertos, estes serão determinantes para toda a vida da planta. Para isso devemos escolher o porta-enxerto para a nossa vinha consoante o objectivo de produção que pretendemos e os factores ambientais.

Critérios a ter em conta na escolha do porta-enxerto:


1º Critério – Resistência à filoxera.
Escolher porta-enxertos com uma resistência duvidosa à filoxera, é à partida uma má escolha. Excepções á regra são os casos em que estes se destinam a solos arenosos em que a percentagem de matéria orgânica e argila não ultrapasse os 5%.
Nestes solos a videira não é afectada pela filoxera sendo preferível pensar em porta-enxertos resistentes a nemátodos como é o caso dos Freedom, Ramsey, Dog Ridge etc…. O conteúdo em argila não deve no entanto ultrapassar os 3%, caso isso aconteça, enxertia em porta-enxertos resistentes à filoxera já se torna obrigatória

2º Critério – Vigor induzido
Para obter a melhor qualidade do fruto, deve evitar-se um excesso de vigor. Os melhores vinhos do mundo são produzidos em vinhas com vigor moderado a baixo. É muito importante considerar na escolha do porta-enxerto as condições edafo-climáticas do local de forma a controlar o vigor induzido. Não utilizar porta-enxertos vigorosos em solos férteis, estes podem ser de grande interesse nos solos pobres em condições de ausência de rega.
Sistemas de condução em compassos largos e porte elevado, exigem porta-enxertos mais vigorosos do que sistemas baixos e compassos apertados.

3º Critério – Resistência a nemátodos
Quando se fala em resistência a nemátodos, deve compreender-se que esta não é universal, depende da espécie de nemátodo. A informação que aqui se apresenta refere-se aos nemátodos do tipo Meloidogyne spp e

Xiphinema index, os mais importantes nas principais regiões vitícolas. O nemátodo Criconemella spp, ou nemátodo dos anéis, começa agora a aparecer com alguma frequência mas ainda não existem estudos sobre a resistência a esta espécie.

4º - Outros aspectos
Outros atributos dos porta-enxertos como a resistência à seca ou ao excesso de água, a tolerância a calcário, activo ou total, a baixo pH, a salinidade etc…, são outros factores que devem ser ponderados na escolha do porta-enxerto para uma condição edafo-climática particular.

Em baixo faço uma breve descrição de alguns dos porta-enxertos mais utilizados no Alentejo.

Rupestris du Lot
É o porta-enxerto tradicionalmente mais generalizado na Região Demarcada do Douro, dada a sua grande capacidade de adaptação a solos secos e pedregosos. Devido sobretudo à baixa produtividade que induz e também à sua característica de emitir rebentações múltiplas pela zona subjacente à enxertia, tem vindo a ser substituído em novas plantações por outros porta-enxertos, mais produtivos. É muito vigoroso, apropriado a solos de baixa fertilidade e pedregosos, induz baixa produtividade, tem razoável resistência à secura, adapta-se mal a níveis de potássio baixo no solo, tolera melhor deficiência em magnésio. Não é aconselhável para solos calcários.

99 Richter (R99)
Tem sido bastante utilizado nas novas plantações e começa a ser muito vulgar nas vinhas em Portugal. É um porta-enxerto muito vigoroso, adaptado a solos secos e de baixa fertilidade, sendo contudo de evitar situações de reacção ácida ou muito asfixiantes. Induz a alta produtividade, o que em algumas castas poderá levar a baixar a qualidade do mosto. Boa resistência à secura e sensibilidade à humidade do solo. É muito sensível a deficiência em potássio no solo, é desaconselhável em solos salinos, resistindo até 17% de calcário activo. Tem boa resistência aos nematodes galícolas.

110 Richter (R110)
Bastante difundido por todo o país, está particularmente bem adaptado a regiões quentes e secas, a solos pedregosos e de baixa fertilidade. Muito vigoroso, bem adaptado a solos pobres, secos e pedregosos. Imprime produtividade elevada, sendo de evitar em solos férteis e húmidos, onde pode provocar atrasos de maturação ou desavinho em castas mais sensíveis. Adapta-se bem em solos com teores relativamente baixos de quer potássio, quer magnésio. É moderadamente susceptível a nematodes galícolas. Não tolera solos salinos e resiste a teores de calcário activo de 17%. Revela alguma falta de afinidade com o clone 101 da casta Syrah, que se manifesta nomeadamente por clorose foliar (Magalhães, 2008).

140 Ruggeri (140 RU)
É um porta-enxerto que tem dado melhores resultados em zonas quentes e secas e em solos calcários. Em Portugal é bastante utilizado nos solos argilo-calcários ou com teores relativamente altos de calcário activo no Alentejo e Algarve. Quando se prevê no Alentejo problemas de clorose férrea é o porta-enxerto mais difundido já que a sua resistência ao calcário activo, associado à secura, é bastante elevada. Bastante vigoroso, desaconselhável em solos húmidos e férteis, induz uma produtividade relativamente elevada, elevada resistência à secura e ao calcário activo (até 40%). Tolera relativamente mal solos de reacção ácida e é muito susceptível aos nematodes.

1103 Paulsen (1103P)
É um porta-enxerto obtido e seleccionado em função da sua boa adaptação a climas quentes e secos, e a solos de baixa fertilidade, revelando, alem disso uma certa tolerância à reacção ácida dos solos. Muito vigoroso, imprimindo tendência à rebentação múltipla nas castas em que é enxertado. Induz produtividade média/alta. Muito resistente à secura e medianamente tolerante à humidade no solo. Muito sensível a deficiências em potássio e tolerante a deficiências em magnésio. É particularmente sensível a deficiências em boro quer em solos de reacção ácida ou alcalina, pelo que é de usar com reserva na casta Aragonez, também sensível a deficiências deste microelemento. Adapta-se a solos com teores em calcário activo de 17% e também a solos salinos com teor em cloreto de sódio até 1‰. Mesmo em solos de baixa fertilidade, proporciona uma boa percentagem de enxertia de campo, ao fim do primeiro ano.

41 B Millardet de Grasset (41B)
Muito utilizado em solos calcários, tem expressão reduzida em Portugal, já que os teores em calcário activo das suas regiões vitícolas são compatíveis com outros porta-enxertos, como o 140 Ru, para zonas mais secas. A sua resistência à filoxera poderá não ser total, pois é um híbrido entre Vitis vinífera e Vitis berlandieri. É um porta-enxerto que imprime vigor e produtividade médios. É o porta-enxerto com maior capacidade de adaptação a solos calcários, até 40% de calcário activo ou IPC=60. É medianamente resistente à secura e sensível à humidade, cloreto de sódio e nematodes.
(Magalhães, 2008)

2 comentários:

  1. bem util toda a informação, seria muito produtivo se alguem consegui-se cartografar os tipos de solos, com informações precisas sobre o melhor tipo de porta-enxertos a utilizar

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